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A escolha de Sofia

março 25, 2020

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São Paulo, 25 de março de 2020.

Faço questão de datar este post para além da informação natural do blog.

Faço porque este texto pode parecer absurdo na atual conjuntura pré-pico de casos de Covid-19 no Brasil, mas que confrontará uma absurda quantidade de hipocrisia que se seguirá em seis ou sete meses desta data.

Muito já se falou sobre SARS, Covid, H1N1 e muito já se tratou sobre todas essas novas enfermidades. Mas pouco se compreendeu de fato. O ambiente lacrosférico do mundo atual nos impede de mais uma vez recorrer à razão, e o alarmismo constante dessas últimas duas décadas está prestes a nos atrapalhar mais do que o sonhado por essa nova classe de intelectuais que domina a maioria dos canais de (des)informação à qual a população tem acesso.

Para tanto, tentarei ser mais didático e lançar apenas algumas perspectivas realmente alarmistas, a ponto de desapontar muita gente que imagina pensar por conta, mas que na verdade se deixa levar um pouco por orgulho próprio, um pouco pela falta de buscar diferentes versões e interpretações para uma mesma notícia, discurso ou comportamento de quem quer que seja. Ou (este tipo nem valeria comentar) faz parte dos que tem ideologia própria.

Felizmente toda notícia guarda uma história e toda história vai para um arquivo de onde regularmente sai para nos provar que o mundo se hipocritiza mais à medida que os anos passam. Talvez seja falta de vitamina D, mas dêmos sequência ao texto.

Há arquivo para todos os gostos. Médico que hoje se contradiz, jornalista que acha idiotice parar a economia por causa de uma gripe, ONU que nunca fez alarde a respeito de quarentena, realmente uma festa. E se vamos falar de H1N1 (2009), vamos posicionar também os personagens similares aos que hoje estão no comando, veja só que engraçado: Barack Obama(Donald Trump), Lula (Bolsonaro), Matteo Renzi(Giuseppe Conte) – estes últimos italianos, para melhor entendimento. Óbvio que é desnecessário citar a China, uma vez que o partido é o mesmo e a decisões são similares mesmo com 10 anos de diferença, pois são os mesmos barões lá.

Pense o seguinte: o status-quo está garantido. Assembléias não sofrem interferência em suas negociatas, o discurso é compatível com o que a ideologia quer, o dinheiro continua rolando pra todos os lados, a concessão de TV continua garantindo contratos de patrocínio milionários (bilionários se você pegar uma quantidade de anos), todo mundo satisfeito e o brasileiro que daqui a 10 anos (2019) vai ficar cada vez mais pobre se nada mudar e mais ignorante (no sentido de falta de inteligência e poder de análise próprio) e mais acomodado com o destino que lhe foi imposto.

É nesse momento – e eu vou tentar ser bem sucinto com relação a isso – que há uma reviravolta e o brasileiro percebe que só ele está ficando mais pobre e ignorante e reage. Acabam-se as negociatas na assembléia, o dinheiro pára de rolar para todos os lados, a concessão de TV tem que vender sua grade para compensar a perda de receita da propaganda das estatais (aí eu te pergunto: porque a Petrobrás precisa de propaganda, você não sabe onde tem um posto de gasolina?), e as pouquíssimas pessoas que estavam absolutamente satisfeitas com o status-quo agora já não estão mais. Não é leviano portanto, dizer que este grupo (pra facilitar a conta) vai querer retomar a vida boa de outrora, certo? E como se faz isso? Simples. Elimine a peça que está atrapalhando e coloque outra peça que os ponha de volta no lugar. Simples assim.

Por outro lado, temos a nova situação. Herdada por um conjunto de fatores que ajudaram em muito a sua eleição (facada, discurso forte, equipe econômica competente, promessa de quebra de paradigma, etc.), a verdade é que chegou com um apetite enorme de acertar e com o mesmo apetite em aparecer. Há que se cobrar estadismo, mas vejamos: Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma, Temer… de quem vamos cobrar estadismo? Cada um com seu escândalo, cada um com seus enfrentamentos.

Bem, uma vez posicionados vamos aos fatos. Sim, aos fatos. É difícil julgar números quando temos íntima relação com os afetados. Mas estamos olhando sem a razão e apenas com a emoção tão bem difundida por aí afora. Procure pelo último vídeo do eterno candidato do Ceará pedindo resguardo da tão sofrida população do Estado que ele nunca fez nada para melhorar, e se comova também. Mas vá mais longe. Vá no video de 2014 onde ele não responde à sofrida contribuinte do mesmo Ceará sobre a construção de hospitais e lhe dá as costas. É realmente comovente. Aí você – mestre na arte de analisar as pessoas e os fatos pensa: “Nossa, que cara de pau! Mas porque ele se comporta dessa maneira?” Você consegue se responder? Então te faço um pedido: Refaça essa análise agora com toda a mídia que eu citei ali em cima e veja se há algum sentido? E aquele médico, que aparece todo domingo pra você defendendo de alguma forma os mais oprimidos, os necessitados, um bom coração o dele, não? Mas porque tratar a H1N1 lá atrás como uma gripezinha ou um resfriadozinho? O que mudou? O governante lá atrás era mais legal e mais bonito, então todo mundo podia sair na rua porque não iria dar nada?

Nosso problema está apenas na busca pelo estadista, aquele governante sério e extremamente inteligente que sabe se comportar, sabe debater (em outras línguas também), sabe se posicionar, tem a diplomacia em dia…mas você não votou nele. Ou não quis votar nele em detrimento a outro pior ainda, ou quis votar no pior sem saber que também nada mudaria e talvez hoje nem quarentena tivéssemos, pois ele estaria tratando a gripezinha da mesma forma que o eterno presidente tratou dez anos atrás, pense bem.

Agora veja a triste realidade vindoura (a partir de agosto, no máximo):

– Iniciamos o ano devendo 130 bilhões de reais;
– Iniciamos o ano com 10 milhões de desempregados;
– Iniciamos o ano 4x mais desfavorecidos ao dólar;
– Iniciamos o ano prevendo um PIB 2% maior;
– Iniciamos o ano aprovando um gasto de 2 bilhões em propaganda eleitoral;
– Terminamos 2019 com um reajuste inflacionário de 7% ao ano.

Te passo outra conta:

Dos 130 bilhões de déficit. O governo (ou seja: você) já deve 70 bilhões a menos que no ano passado. Parece bom, não? Em uma economia voltando ao normal podemos chegar a 70 bilhões de déficit em 2020, podemos até zerar em 2021!!!! Que lindo!

Só que esse dinheiro entra na conta do governo de algumas maneiras, e eu vou repetir uma frase na frente de cada uma delas, pra você entender o porquê eu datei esse texto lá no começo. Vamos lá:

– Imposto de importações [Covid-19 – em quarentena, o mundo não produz pra exportar];
– Imposto de exportações [Covid-19 – em quarentena, o Brasil não produz pra exportar];
– Imposto sobre serviços [Covid-19 – em quarentena, o Brasil não realiza eventos];
– Imposto de Renda [Covid-19 – em quarentena, várias empresas não produzem, não vendem, demitem funcionários, que não declaram IR e portanto, não têm o que recolher];
– DAS (Simples, pequenas e médias empresas) [Covid-19 – o mesmo que acima, só que por ter um nível de faturamento mais baixo, não conseguem se segurar por muito tempo];
– IPI – [Covid-19 – em quarentena, o Brasil não produz. Não pode ir para a fábrica trabalhar ao lado do colega]
poderia ir mais adiante, tem mais ainda mas acho que já ta bem claro o que vai acontecer quando saírmos da toca (98% de nós, infelizmente) e ver que talvez sejamos a partir daí 78% de nós na mão de um governo que ‘resolvemos não gostar’ para salvar nossa pele.

Temos um representante no executivo nacional que é totalmente despreparado para o trabalho? Temos, concordo.

Somos manipulados e muitas vezes não nos damos conta disso? Sim, somos.

Ele estaria certo em entrar na campanha ‘Fiquem todos em casa’? Não, não está.

Ele está preocupado com seu índice de aprovação ao final do ano, com 40 milhões de desempregados? Sim, está.

Qual deveria ser o tema do debate agora? Pergunto pra você que está em casa, parado igual a economia que você irá xingar em 3 meses, se fazer de coitado – mas com as séries e filmes em dia – o que devemos fazer? Destruir nossas panelas na janela? Ou fomentar o debate? Ou procurar os famosos especialistas e buscar alternativas? Ou só chorar no sofá?

Você já pensou nas formas de contágio? Já te disseram como evitar? Já ouviu falar em higienização? Você consegue lavar as mãos em casa quantas vezes? E no trabalho, quantas? Já se fez essas perguntas – que você fará quando sua vaga de trabalho estiver correndo o iminente risco de não existir mais?

Aqui vai minha contribuição:

– Se puder ir trabalhar de carro, vá
– Se puder ter um frasco de alcool gel em casa, no trabalho, no carro, tenha.
– Se puder evitar contato a menos de 2 metros de distância de um colega ou mesmo na rua, evite. Cumprimentar nem é necessário comentar. Telefone próprio e computador da empresa não pegam doença. E sendo só seu, basta higienizar todo dia.
– Você tem 14 dias de assintomático até descobrir-se infectado. Ou até fazer um teste e descobrir. É possível tomar cuidado para não se infectar e para não te infectarem. O vírus entra nas mucosas (olhos, nariz e boca). Se tiver dúvidas se tocou em algo infectado, lave a mão. Se essas partes estiverem coçando, mesmo que tenha certeza que sua mão está limpa, lave de novo.
– Desinfecte tudo que você tocar em seu trabalho. Maçanetas de porta, trincos de janela – coisas que outros tocam, lave a mão.
– Voltou pra casa, sapato na porta e lave a mão e o rosto. Se possível tome um banho e ponha a roupa pra lavar. Não cumprimente ninguém antes de fazer isso.
– O aplicativo entregou suas compras de supermercado? Higienize!
– Não visite pessoas com mais de 60 anos, ou recém-nascidos (estes, nem sem epidemia deveriam ter nossa atenção até os 3 meses ao menos)

Digamos que você esteja nesse grupo acima. E que sejamos 50% do que a economia precisa para não parar. Já é um bom caminho para evitar que muitos morram de fome.

Agora, minha contribuição ao governo:

– Desenvolvam testes rápidos o quanto antes, e barateiem a produção. Distribuam o mais rápido possível em farmácias também. Para que assintomáticos possam mesmo exagerar e fazer o exame 3x em 14 dias se for o caso. E caso estejam infectados – AÍ SIM – ficarem em quarentena.

Sei que muitos não vão compreender essas linhas agora. Talvez o mundo (menos o Japão, que já tem muitos na rua) estejam certos, talvez eu esteja errado em me preocupar com tanta gente que é essencial presencialmente ao trabalho perder o emprego e só recuperar 1 ou 2 anos depois, mas não quero ter esse arrependimento. Covid não é Ebola. Assim como nós não somos (e está provado) higiênicos. Mas é mais fácil aprender a lavar a mão.

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